*Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão palavras;
*Vigie suas palavras, pois elas se transformarão em atos;
*Vigie seus atos, porque eles se tornarão seus hábitos;
*Vigie seus hábitos, pois eles formarão seu caráter;
*Vigie seu caráter, porque ele será o seu destino.
Os meios e os fins da formação de que todo ser humano precisa! E de que nós, professores, necessitamos de modo especial, pois somos realidade eloqüente na escola.
Pensamentos, palavras, atos e hábitos
A palavra “vigiar” tem aqui um sentido positivo. Vigiar é cuidar, é acompanhar, é estar atento a alguma coisa valiosa. A etimologia nos ensina que a palavra vem do latim vigilare, e significa “não dormir”. Não podemos cochilar nessa tarefa de autoformação. Vigiar os pensamentos é conhecer nossas idéias. Saber que pensamentos povoam nossa mente. Leonardo da Vinci dizia que quem pensa pouco erra muito. E o filósofo espanhol Ortega y Gasset explicava que pensar é o ato de capturar a realidade por meio das idéias.
No que eu penso quando não estou pensando em nada? Neste momento, descobrirei as idéias que tenho, e talvez descubra também que nunca verifiquei até que ponto concordo realmente com as minhas idéias! Ou até que ponto minhas idéias concordam com a realidade...
As idéias precisam ser verificadas. Há aquela piada de um homem que não era propriamente um cumpridor dos seus deveres. Batia na mulher, embriagava-se diariamente, vivia pulando de emprego. Até que um dia morreu. E de repente, no velório, entrou um amigo do defunto. E começou a discursar, elogiando o “marido exemplar”, o “cidadão impecável”, o “trabalhador infatigável” que o mundo acabara de perder. Virando-se então para o filho mais velho, a viúva cochichou: “Filho, vai ver se é o teu pai mesmo que está lá no caixão”.
Temos de verificar, ver se é verdadeiro, ou meio verdadeiro, ou 20% verdadeiro, ou 1% verdadeiro cada pensamento que habita nosso cérebro. Este exercício nos ajudará a pensar em nossas palavras.
As palavras que dizemos nascem dos pensamentos que cultivamos. Palavras o vento leva, como afirma o ditado, e a pergunta é: para onde o vento leva as nossas palavras? Leva-as para a mente e o coração de outras pessoas. São mensagens que nem sempre retornam ao remetente. Uma palavra, dizia o filósofo Aristóteles, é como uma pedra lançada, depois de arremessada não há como fazê-la voltar.
Entre todos os recursos de que dispõem os professores, a palavra é o mais acessível, e o mais decisivo. Há retroprojetores, há apostilas, há slides, mas a palavra do professor é sempre aquele recurso didático que toca a inteligência, a imaginação e a vontade dos alunos.
Vigiar nossas palavras é saber que palavras falamos e o que queremos dizer com o que falamos. Certa vez, uma professora, a título de brincadeira, começou a chamar seus alunos de energúmenos. Falava em tom de brincadeira, porque a palavra (cujo significado desconhecia) parecia-lhe divertida. Os alunos também não conheciam a palavra e encaravam aquilo com tranqüilidade, achando graça do apelativo. No entanto, um belo dia (dia não tão belo...), uma aluna resolveu consultar o dicionário, e se revoltou:
— Professora, como a senhora ousa nos chamar de energúmenos?!
— Como assim...? É uma palavra como outra qualquer...
— A senhora não sabe o que significa “energúmeno”?
— Não...
— Pois devia saber! Energúmeno, professora, é o possuído pelo demônio, e, como também diz o dicionário, um indivíduo desprezível, que não merece confiança, boçal, ignorante...
A professora não tinha palavras para se desculpar! Ficou em silêncio, e no silêncio entendeu que, além de pedir perdão, deveria aprender a vigiar suas palavras. A pensar duas vezes antes de falar! Porque nenhuma palavra é uma palavra qualquer...
Vigiando nossas palavras, tornamo-nos pessoas atentas aos nossos atos. Nossa conduta, em geral, é uma conseqüência de nosso discurso. Ou pelo menos deveria ser.
2005-Congresso Saber
Anotações Gabriel Perissé
Colaboração Gamaliel Di Srael